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o futuro do Breno-25/02/2025 ás 15:05
tempo de leitura: 7 minutos

Escrito por fabio vaz de abreu
 

Em novembro de 2019, recebi o diagnóstico do Pedro. Em fevereiro de 2020, enquanto ainda nem tinha tido tempo de assimilar o diagnóstico do Pedro, recebemos o diagnóstico do Breno.

 

Tudo que pedimos a Deus nesta vida é que os filhos nasçam saudáveis, e me aconteceu justamente o que eu mais temia, duas vezes.

 

O Pedro nunca precisou usar antipsicóticos. Ele tinha, de forma bem grave, transtorno do sono e seletividade alimentar, a ponto de afetar sua saúde de maneira global. Foram algumas hospitalizações por problemas de saúde que não levariam uma criança a uma situação clínica tão grave. Em uma dessas hospitalizações, quase o perdi.

 

"Ué... mas autismo não é doença."

 

Que saúde tem uma criança que não dorme e não come?

 

Além disso, ele não falava nada para expressar sintomas ou preferências. Hoje, o Pedro dorme, come muito melhor e fala tudo. Foram anos de terapia, e foi isso que o salvou.

 

Antes de iniciar a campanha, vendi tudo que tinha e me endividei até com agiota. Criei a campanha quando não tinha mais nenhuma outra alternativa, e pessoas nos apoiaram, se unindo para lutar conosco. Devo a elas essa melhora do Pedro.

 

O Breno hoje ainda faz uso de pelo menos 6 medicamentos todos os dias. Se você ler a bula de qualquer um deles, vai sentar no chão soluçando de chorar.

 

"É o caminho menos pior."

 

Esse é o discurso dos médicos.

 

O quadro clínico do Breno e os prejuízos clínicos são tantos e tão significativos que eu nem sei quais elencar. Não sei mesmo.

 

Pedro está estudando e está oficialmente de alta das terapias de alta intensidade. É indicado fonoaudiologia duas vezes por semana e psicomotricidade também duas vezes por semana. Estou procurando um lugar para levá-lo.

 

O Breno precisa das terapias de alta intensidade, do acompanhamento com o neurologista e psiquiatra, e do tratamento medicamentoso, além de dois exames que já tentamos fazer duas vezes sem sucesso porque ele não dormiu e não queremos a opção da anestesia geral. Vamos tentar mais uma vez somente com sedação.

 

Tanto o Pedro quanto o Breno estão oficialmente sem clínica para atendê-los. Se o Pedro não tiver nenhum atendimento a partir de agora, terá alguns prejuízos importantes, mas nenhum deles o impedirá de viver sua vida e ter autonomia.

 

Já o caso do Breno é completamente oposto.

 

A partir do dia 28 de fevereiro, o Breno nunca mais verá a equipe que tem atendido ele desde agosto de 2023 e com a qual ele já está harmonizado.

 

Essa mesma equipe maravilhosa salvou o Pedro e tornou o Pedro elegível para ser uma criança que estuda em uma turma regular sem nenhum apoio pedagógico especial. Ele não precisa de ajuda. Ele acompanha seus colegas neurotípicos. Essa mesma equipe que salvou o Pedro não salvou o Breno porque o Breno precisaria de mais tempo.

 

A clínica em que estão desde agosto de 2023 também fez um orçamento de acordo com o laudo médico deles.

 

Consultei os valores exatos e desatualizados, pois a data do orçamento é outubro de 2022.

 

O investimento mensal para o Breno naquela época seria de R$ 27.330,00, e para o Pedro, R$ 22.110,00.

 

Estamos falando de quase 50 mil reais por mês que, por amor, a dona dessa clínica transformou em R$ 7.800,00 por mês, e aceitou receber R$ 1.900,00 por semana ao final de cada ciclo semanal.

 

Ela pediu apenas o óbvio em troca: que fôssemos absolutamente discretos. Afinal de contas, TODOS os outros pais que lá estão pagam em média 20 mil por mês. Alguns pagam 30 mil por mês.

 

Jamais ninguém poderia saber desse nosso arranjo. E assim ficamos por muitas semanas. Pedro e Breno eram os clandestinos da clínica que só tem gente rica. E nessa clandestinidade nada lhes foi tirado. Receberam o mesmo tratamento dos filhos dos milionários, mas nas sombras, em segredo. Não podiam tirar fotos, vídeos tampouco. Nota fiscal nem pensar. Pagávamos na conta pessoal da dona da clínica e, durante todo esse tempo, foi lindo ver as crianças progredirem e o Pedro sair de uma criança que não falava nada para uma criança que hoje fala tudo e estuda em uma turminha regular sem apoio pedagógico especial porque ele não precisa.

 

Esse arranjo poderia durar o tempo que fosse necessário para atingir os mesmos resultados com o Breno, caso não precisássemos de ajuda para manter as crianças lá.

 

Para mantê-las na clínica, gravo vídeos todas as semanas.

 

Em setembro do ano passado, esse arranjo se tornou um problema quando recebemos a primeira denúncia anônima por estelionato, crime virtual, etc.

 

Entrei pela primeira vez em uma delegacia na qualidade de investigado. Com 41 anos de idade, com barbas brancas, depois de ter achado e devolvido 22 mil reais no meu carro, depois de ter feito vários estornos não solicitados em uma semana específica, em que o valor tinha superado os 1.900 que precisávamos, e depois de dedicar anos para a própria polícia, lá estava eu sentado ao lado da minha advogada em uma oitiva.

 

Apresentei todas as provas que foram solicitadas, e o inquérito foi arquivado, indicado tanto pelo delegado que me investigava quanto pelo Ministério Público.

 

Durante meu depoimento, falei que queria processar a Polícia Civil e a pessoa que, de maneira covarde, fez essa falsa denúncia. Minha advogada disse que não havia motivo para processar a polícia, porque não fizeram nada de errado. Apenas me chamaram para ouvir meu lado, e a denúncia não foi grave o suficiente para gerar um dano moral. Esse tipo de denúncia pode ser anônima. Resumindo, tive que engolir aquele sapo enorme.

 

Até hoje, não olhei na cara da pessoa covarde e cafajeste que teve a audácia de fazer essa denúncia caluniosa. A polícia disse que essa pessoa nunca ajudou. Perguntaram a ela se queria algum ressarcimento, e ela disse que não tinha nada a pedir, porque nunca doou nenhum centavo para a campanha. Que nojo. Eu ainda não entendo o que motiva pessoas assim. Juro que não sei. Não estou fingindo ser ingênuo; sou sincero em dizer que não tenho ideia de por que uma pessoa faria isso.

 

Se alguém fez isso, essa mesma pessoa fará de novo, e outras podem fazer também. Minhas escolhas passaram a ser todas terríveis. Eu poderia trair a confiança da dona da clínica e, contra a vontade dela e contrariando a palavra que dei, gravar as crianças todos os dias lá, dizendo o nome e o endereço da clínica.

 

Seguindo por esse caminho, eu afastaria qualquer possibilidade de passar pelo que passei novamente, mas, ao mesmo tempo, estaria apunhalando pelas costas a pessoa que ajudou as crianças. Isso não duraria muito; ela saberia, e seríamos expulsos de lá.

 

Fazer isso não era uma opção. Por isso, ontem, no dia 24, informei à equipe que essa será a última semana das crianças. Não dei detalhes, até porque eles não sabem desse acordo com a proprietária da clínica.

 

No final do dia, o telefone tocou. Atendi, e do outro lado da linha ouvi aquela voz familiar daquela pessoa incrível que foi a primeira a estender a mão para meus pequenos. De repente, relembrei aquela mesma noite em que conversamos pela primeira vez.

 

Eu confesso que estava otimista demais. Imaginei que a ligação dela terminaria com uma oferta do tipo “Fabio, eu dou o tratamento para o Breno”. Mas a realidade não foi essa. Ela queria saber o motivo da nossa saída, e eu expliquei. Ela lamentou e disse que queria ter condições e autonomia para ajudar mais, mas que, de fato, já estava bancando pelo menos 10 mil por mês, mesmo a gente pagando 1.900 por semana. Ela mencionou que tem sócias que não concordam com sua decisão, mas que, mesmo pagando 10 mil por mês do próprio bolso para a clínica não ter prejuízos, jamais voltou atrás com sua palavra, porque, segundo ela, eu também estava honrando a minha. Ela disse ainda que esse é o limite dela, que infelizmente não pode pagar os 10 mil que já paga e mais os 1.900 que a gente paga. Falou que os custos com folha e operacionais são altíssimos. Encerrou a ligação agradecendo pela atitude honrada de avisar com antecedência sobre nossa saída e disse que, em contrapartida a isso, não vai programar o início de outros atendimentos no horário das crianças. Que fará isso somente quando a gente parar de ir.

 

Eu não posso mais pedir ajuda toda semana. Por acaso, o site dos pequenos tem uma ferramenta que permite que a pessoa escolha o valor que pode ajudar por semana e se comprometer com ele pelo tempo que quiser. Precisaríamos de 95 pessoas doando 20 reais por semana. Esse é o valor mínimo que o site aceita receber. Não consigo diminuir esse valor. Enquanto escrevo estas linhas, temos 11 pessoas que entraram no site e, de diferentes formas, garantiram que não faltem esses 20 reais por semana. Teve gente que cadastrou seu cartão de crédito, outras em débito em conta.

 

Ainda faltam 84 pessoas voluntárias para fazer o mesmo. Até o dia 28 de fevereiro de 2025, se essas 84 pessoas aparecerem, as crianças não precisarão deixar a clínica, e eu não precisarei gravar vídeos pedindo ajuda, além de não correr o risco de ser caluniado de novo. É quase impossível, eu sei. Mas é minha obrigação tentar. Por isso, escrevi este texto, para expor a situação da forma como ela é e permitir que as pessoas decidam se querem ou não ajudar. Independente do resultado, a luta vai continuar e nossa gratidão é genuína por termos chegado até aqui.

Obs: O Pedro terá a disposição todos os profissionais e mesmo que ele não frequente todas terapias ou pare de ir e o atendimento seja somente para o Breno a nossa participação será a mesma. R$ 1.900,00 por semana ao final de cada ciclo semanal. É um valor alto para a nossa família e muitas famílias brasileiras, mas é um valor irrisório quando usamos como referência os orçamentos desta e de todas as outras clínicas.

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